Gaudium Press
Não menos fascinante do que desconhecido, o Extremo Oriente é hoje o lar de quase 11% dos católicos do mundo. Segundo os dados do Anuário pontifício de 2010, cerca de 130 milhões de católicos (10,87 %) habitam no continente asiático. Evidentemente esse número é pequeno se comparado à população total da Ásia, na qual vivem 60% da população mundial (4,14 bilhões), e dentro da qual, a ínfima participação católica de 3,05% do total parece ser quase insignificante. Entretanto, essa promissora região do globo apresenta dados muito significativos de crescimento do número de batizados, sob diversos aspectos.
Paulatinamente a Ásia, e sobretudo a África, ganham participação nas quotas relativas de católicos em relação a cada continente. Entre 2000 e 2010 houve variações consideráveis. A África passou de 12,44% em 2000, para 15,55% em 2010 (173 milhões). De 2009 a 2010 a Ásia passou de 10,47 a 10, 87%. Com base em projeções num cenário moderado, em 2050 teremos tantos católicos no Oriente quanto na Europa (18,37% na Ásia e 18,55% na Europa).
Isso não se deve apenas ao fato de que o número de católicos na Ásia cresce (1,98% ao ano) em uma taxa de crescimento superior à da Igreja (1,44%) e da população mundial (1,33%), mas também pela estabilização do número de católicos na Europa, que perde participação no contingente católico para a África e a Ásia devido à baixa taxa de natalidade. Em suma, a África acaba por ganhar o que a Europa perde, porque anualmente nascem 24 milhões de africanos enquanto a população europeia não possui um acréscimo maior que 900 mil pessoas por ano.
Projetando os dados fornecidos pelas várias edições do anuário pontifício na última década, caso a taxa de natalidade em cada continente continuasse a se reduzir segundo o ritmo atual, pode-se dizer que em 2050 a distribuição de católicos teria relevante participação da África e da Ásia, que alcançaria 41% dos católicos do mundo. Inclusive a América começaria a perder participação relativa no contingente católico para os dois continentes.
Deve-se acrescentar que diversos países com relevante participação católica terão sua população duplicada até 2050 como é o caso da Nigéria, Tanzânia, do Congo, Quênia, Uganda, Moçambique, Gana, Camarões e Angola.
Crescimento sustentável
A expressão usada no subtítulo é inteiramente aplicável aos casos asiáticos e africanos, onde, de modo diferente ao que foi feito durante o século XIX na América, procurou-se incentivar, sobretudo na Ásia, a formação de um numeroso clero autóctone. Há dados eloquentes que corroboram esse novo horizonte. Entre 2009 a 2010, enquanto ocorreu uma leve flexão na Europa e Oceania, a Ásia ganhou 12 novos bispos e 1.695 sacerdotes. A cifra de novos sacerdotes é mais do que o dobro da África (765), e enormemente superior à Oceania (52) e à América (42). A Europa terminou o ano com 905 sacerdotes a menos. Entre religiosos e diocesanos, havia no ano de 2010 na África 35.611 sacerdotes enquanto que na Ásia são 53.922.
Se o número de religiosos professos diminui na América do Sul (-3,5%) e na América do Norte (-0,9%) e se mantém estável na Europa, eles aumentaram na Ásia em 4,1% ao ano e, na África, 3,1%. Se o número de religiosas diminuiu na Europa, Oceania e América (-2,9%, -2,6% e -1,6% respectivamente) ele cresceu na Ásia e na África em cerca de 2% ao ano. Assim, em 2010 a Ásia somou 160.862 religiosas e a África 63.731. Fenômeno semelhante ocorre com o número de seminaristas maiores: há um decréscimo na Europa (-10.4%) e na América (-1.1%), mas na Ásia há um crescimento de 13%. Nem o PIB chinês cresceu tanto. Assim, na Ásia há 32.677 seminaristas maiores enquanto na África, 25.607.
Como base nesses dados, percebe-se que enquanto a alta taxa de natalidade da África subsaariana proporciona um aumento de participação na quota de católicos no continente, no Oriente verifica-se um crescimento por três razões: grande número de conversões, taxas razoáveis da natalidade e numeroso surgimento de vocações religiosas e presbiterais. Com base nesses dados, parece que o crescimento da Ásia evidencia maior sustentabilidade a longo prazo do que da África, por causa do aumento das vocações sacerdotais e religiosas, que agem entre os fieis católicos como o fermento na massa, como a luz no mundo e o sal da terra (Cf. Mt 5,13-14).
Uma Igreja afro-asiática nasce
Ao longo de 19 séculos a vida da Igreja Católica foi marcante no mundo Europeu, e, sobretudo, às margens do Mediterrâneo. O século XX viu despontar a América como o habitat de quase metade dos católicos do mundo.
Em 1910, apenas 6% dos católicos moravam na Ásia e na África, enquanto 93% dos católicos habitavam na Europa e na América. Cem anos depois Ásia e África passaram de modestos 6% da população católica mundial para 26%. O século XXI parece ser, de fato, a era em que a América continuará a possuir o maior contingente de católicos, mas se a dinâmica de crescimento continuar na Ásia e na África o século XXI se concluirá com uma maior proporção de católicos no Extremo Oriente que na Europa ou mesmo América do Sul. Que perspectivas pastorais essa realidade latente pode despontar para nosso século? O que o Espírito Santo tem em vista com essas graças de conversão dada ao oriente?
Atualmente a participação relativa da população católica no mundo predomina na América, com relevante participação na Europa, somando ainda 72% dos católicos do mundo, fazendo com que o catolicismo se apresente diante dos orientais como uma característica da cultura ocidental e estabelecendo um tabu cultural por vezes difícil de transpor em certas regiões do Oriente.
No entanto, se compararmos as quotas de 2010 com a distribuição continental da população mundial em 2050, percebe-se que o século XXI parece ser a era da conversão da Ásia, feita não pelos missionários ocidentais, mas pelos próprios orientais. Enquanto Ásia e América, e, sobretudo, a Europa, perdem intensidade na participação relativa devido às baixas taxas de natalidade, ocorre um boom populacional na África.
No tocante aos católicos, em 2050 África e Ásia aumentariam a participação relativa atingindo a quota de 41%, enquanto América e Europa diminuiriam para 58%. Assim, ser católico não significará mais ser ocidental, europeu ou americano. É possível que o século se conclua com uma superação do número de católicos na Ásia e na África em relação à Europa e América devido às baixas taxas de natalidade previstas para a América Latina, que em algumas décadas seriam comparáveis às da Europa.
Com base nesses dados, em 2050 a participação dos católicos no mundo tende a se equiparar à proporção da população distribuída nos continentes.
O século XXI seria então a era da conversão da Ásia tão almejada por São Tomé, São Francisco Xavier e a plêiade inumerável de heróis que entregaram suas vidas pela conversão do oriente?
As catacumbas do século XXI
Nota-se que é justamente em condições adversas que o catolicismo mais cresce no oriente. É certo que há no extremo oriente países nos quais a população é majoritariamente católica como o pequeno Timor Leste, com 88,84% de participação. Filipinas, com 73,8 milhões, possui a terceira maior população católica do mundo depois do Brasil e do México com uma elevada taxa de natalidade. Até a Indonésia, na qual a população não cristã soma 87,7%, possui um contingente 8 de milhões católicos, ou seja, uma população católica maior do que de países ocidentais como Áustria, Suíça ou Paraguai.
A Coreia do Sul sempre foi considerada como lugar de missão no qual o cristianismo era minoritário. O século XXI começa com 29,2% da população coreana confessando o cristianismo. Deste contingente, a maior denominação cristã é a Igreja Católica Romana, com 5,3 milhões (10,3% da população). A Coreia do Norte, sob rígido regime comunista, apresenta dados semelhantes. De fato, o sangue dos mártires coreanos – o país com maior número de mártires oficialmente catalogados – comprou e continua a comprar a conversão de seus conterrâneos. O episcopado coreano projeta terminar a segunda década do século com 20% da população convertida ao catolicismo.
Ao mencionar a situação dos católicos na Coreia do Norte, recorda-se outros países onde os católicos são minoritários, como a Índia, o Vietnã e a China. Mas é precisamente nesses países que o crescimento da Igreja ocorre de modo preponderante. Há na Índia cerca de 17,3 milhões de católicos, mas que representam menos de 1,58% do total da população indiana. Contudo, há regiões da Índia onde os cristãos somam mais de 90% da população. Entre os estados mais populosos, destaca-se Kerala, localizado ao sudoeste da Índia, no qual 33% dos habitantes são católicos. A Igreja Católica é a maior denominação cristã do país.
Na China, a situação entre a Igreja Católica e o governo é tensa. Lá existem 9 milhões de católicos, menos de 1% da população chinesa, mas o governo julga necessário intervir na nomeação dos bispos e procura manter a Igreja Patriótica fiel a Pequim. No entanto, muitos católicos chineses não se definem entre uma e outra parte, sendo muitas vezes contados como pertencente aos dois grupos. O próprio arcebispo da capital do país, Joseph Li Shan, está simultânea e oficialmente contado entre os fieis a Roma e a Pequim. Com a abertura da economia e a ocidentalização do país, pode parecer que haverá passos a caminho da liberdade, mas por outro lado, o governo chinês ainda continua uma política de censura que derroga a liberdade religiosa e procura estimular uma lastimável propaganda com caracteres xenófobos. Pode-se conjecturar que o trampolim de acesso à China pareça ser Taiwan, que oferece liberdade religiosa e mais de 10% de seus habitantes confessam o cristianismo.
Um país no qual a evangelização é difícil, apesar da liberdade religiosa, é o Japão. Lá há 0,5% da população de 127 milhões que são católicos mas, ao que parece, após séculos de perseguição cerrada, a Igreja ainda não assentou bases sólidas nas ilhas nipônicas. Contudo, há 500.000 fieis no Japão, que podem vir a ser os apóstolos de que o país necessita.
Os cristãos da Ásia
Transcendendo do universo católico para os cristãos acatólicos, verifica-se que o número de discípulos de Cristo no Ocidente é muito maior que o número de católicos, especialmente nos países do extremo oriente como China, Coreas, Tailândia, Papua-Nova Guiné e Indonésia. Exceção para essa realidade são as Filipinas (90%) , o Timor Oriental (90%), Vietnã (9%) e Sri Lanka (7,12%), países nos quais a maioria da população cristã se diz católica. Juntos, esses países somam cerca de 20 milhões de católicos. Eis mais um enclave cristão próximo à Indonésia.
A conversão de outros países por outras denominações cristãs não é motivo de preocupação para o catolicismo, visto já se ter tido o exemplo histórico dos povos bárbaros europeus. Antes dos monges e missionários católicos evangelizarem as tribos germânicas ou eslavas, por lá já haviam semeado noções do Evangelho os arianos. Desse mosaico de povos, surgiu o monólito católico medieval que só foi rompido pela pseudoreforma no século XVI. Resta saber se o mesmo processo ocorrido no início da Idade Média se verificaria no século XXI com o Oriente.
Hoje na Ásia, há cerca de 260 milhões de cristãos. Estatísticas oficiais chinesas, que segundo alguns estudiosos não correspondem propositadamente à realidade, apresentam números que variam entre 3 a 5% da população do gigante asiático como cristã (67 milhões de pessoas). No entanto, outras estimativas elevam esse número para 8% ou mesmo 10% (100 milhões) da população chinesa. Outros países asiáticos oferecem a mesma perspectiva: Arábia Saudita (5,5%) Malásia, (11,1%) Hong Kong (11%), Brunei (11%), Indonésia (12,3%), Kuwait (15%), Cingapura (18,3%), Coréia do Sul (29,2%) e Papua-Nova Guiné (96%, dos quais 32,97% diz-se católica).
No Centro da Ásia e no Oriente Próximo também há motivo para esperança. Do mesmo modo, entre os países do Oriente Médio. Deve-se mencionar em primeiro lugar a Armênia onde 93% da população (3,2 milhões) confessa o cristianismo e cerca de 4% da população é católica. No Líbano 39% da população confessa o cristianismo, mas esse número vem diminuindo por causa das emigrações em virtude do terrorismo contra os cristãos. O Cazaquistão já conta com 51% da população cristã de maioria ortodoxa. Na Síria, 8% da população são cristãos ortodoxos, enquanto 2% são católicos.
Desponta ainda outra esperança entre os países petroleiros do Oriente Médio. Os católicos são, em sua maioria, estrangeiros. Os Emirados Árabes Unidos possuem cerca de 250.000 trabalhadores estrangeiros que são católicos, o que representa cerca de 7% da população. No Kuwait filipinos, indianos e libaneses assim como caucasianos de todos os continentes são 6,16% da população. Contudo, na Arábia Saudita não há liberdade religiosa. Hoje 6,6% da população asiática já é cristã, ou seja, cerca de 250 mil de pessoas.
A Igreja cresce nos países pobres
Se é verdade que o crescimento do catolicismo e do cristianismo em geral dá-se sobretudo nos países pobres, aos quais a crítica ateia usa o pejorativo rótulo de Christian Rice (cristãos do arroz), verifica-se que o desenvolvimento humano e econômico não é um obstáculo absoluto para a conversão dos pagãos. Basta lembrar o caso dos Estados Unidos, uma das maiores potências econômicas dos séculos XIX e XX.O catolicismo cresceu de forma paulatina, mas constante, passando de 2% em finais do século XVIII a cerca de 25% no século XXI. Embora a imigração tenha favorecido esse acréscimo, não se deve negligenciar o papel das conversões ao catolicismo no mundo anglo-saxão tal como se dá na Inglaterra em pleno século XXI. Outro exemplo inegável seria o da Coréia do Sul. O crescimento da Igreja Católica anda pari passu com o desenvolvimento socioeconômico. Hoje a Coréia do Sul é um dos países mais desenvolvidos. Assim não se pode dizer que a educação e a riqueza são obstáculos absolutos para a Evangelização.
Estatísticas consultadas
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(MEMS / GGDR / TL)