Os
povos envolvidos em guerra (1ª guerra mundial 1914-1918) espalhavam a morte,
medo e a dor. Portugal atravessava uma grave crise, almas desorientadas
envolviam-se na descrença, corações com fé suplicavam paz e a salvação para o
mundo. Foi nesta atmosfera humana que brilhou o belo e risonho dia 13
de Maio de 1917.
Neste
dia as três crianças apascentavam um pequeno rebanho na Cova da Iria, freguesia
de Fátima, conselho de Vila Nova de Ourém, hoje diocese de Leiria-Fátima.
Chamavam-se Lúcia de Jesus, já com 10 anos, e Francisco e Jacinta Marto, seus
primos, de 09 e 07 anos.
Por
volta do meio dia, depois de rezarem o terço, como habitualmente faziam,
entretinham-se a construir uma pequena casa de pedras soltas, no local onde
hoje se encontra a Basílica. De repente, viram uma luz brilhante; julgando ser
um relâmpago, decidiram ir-se embora, mas, logo abaixo, outro clarão iluminou o
espaço, e viram em cima de uma pequena azinheira (onde agora se encontra a
Capelinha das Aparições), uma "Senhora mais brilhante que o sol", de
cujas mãos pendia um terço branco.
A
Senhora disse aos três pastorinhos que era necessário rezar muito e convidou-os
a voltarem à Cova da Iria durante mais cinco meses consecutivos, no dia
13 e àquela hora. As crianças assim fizeram, e nos dias 13 de
Junho, Julho, Setembro e Outubro, a Senhora voltou a aparecer-lhes e a
falar-lhes, na Cova da Iria. A 19 de Agosto, a aparição deu-se no
sítio dos Valinhos, a uns 500 metros do lugar de Aljustrel, porque, no dia 13,
as crianças tinham sido levadas pelo Administrador do Conselho, para Vila Nova
de Ourém.
Na
última aparição, a 13 de Outubro, estando presentes cerca de
70.000 pessoas, a Senhora disse-lhes que era a "Senhora do
Rosário" e que fizessem ali uma capela em Sua honra.
Depois
da aparição, todos os presentes observaram o milagre prometido às três crianças
em Julho e Setembro: o sol, assemelhando-se a um disco de prata, podia fitar-se
sem dificuldade e girava sobre si mesmo como uma roda de fogo, parecendo
precipitar-se na terra.
Posteriormente,
Nossa Senhora apareceu só a Lúcia uma 7ª vez em 15 de Junho de
1921 na cova da Iria como ela mesma conta em seu diário, indicando o
caminho que Lúcia deveria seguir.
Após
sendo Lúcia já religiosa de Santa Doroteia, Nossa Senhora apareceu-lhe
novamente em Espanha (10 de Dezembro de 1925 e 15 de Fevereiro de 1926,
no Convento de Pontevedra, e na noite de 13/14 de Junho de 1929, no
Convento de Tuy), pedindo a devoção dos cinco primeiros sábados (rezar o terço,
meditar nos mistérios do Rosário, confessar-se e receber a Sagrada Comunhão, em
reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria) e a
Consagração da Rússia ao mesmo Imaculado Coração. Este pedido já Nossa Senhora
o anunciara em 13 de Julho de 1917, na parte já revelada do chamado
"Segredo de Fátima".
Deus olhou para o mundo com bondade e misericórdia no
silêncio da Cova da Iria.
1ª APARIÇÃO – 13
de Maio de 1917.
Lúcia
descreve com exatidão o primeiro encontro com a Virgem da carrasqueira:
Andando
a brincar com a Jacinta e o Francisco, no cimo da encosta da Cova da Iria a
fazer uma paredezita em volta de uma moita, vimos de repente como que um
relâmpago.
–
É melhor irmos embora para casa. Disse a meus primos:
–
Estão a fazer relâmpagos e pode vir trovoada.
E
começamos a descer a encosta, tocando as ovelhas em direção à estrada. Ao
chegar mais ou menos a meio da encosta quase junto de uma azinheira grande que
aí havia, vimos outro relâmpago e dado alguns passos mais adiante vimos sobre
uma carrasqueira uma Senhora vestida toda de branco mais brilhante que o Sol,
espargindo luz mais clara e intensa que um copo de água cristalina atravessado
pelos raios do sol mais ardente.
Paramos
surpreendidos pela aparição. Estávamos tão perto que ficávamos dentro da luz
que a cercava ou que Ela espargia, talvez a metro e meio, mais ou menos.
Então
Nossa Senhora disse-nos:
– Não tenhais medo, hei não vos faço mal.
–
De onde é Vossemecê? Lhe perguntei.
– Sou do Céu!
–
E que é que Vossemecê me quer?
– Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos,
no dia e a esta mesma hora, depois vos direi quem sou e o que quero. Depois
voltarei aqui ainda uma sétima vez.
–
E eu também vou para o Céu?
– Sim, vais!
–
E a Jacinta?
– Também.
–
E o Francisco?
– Também, mas tem que rezar muitos terços...
Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os
sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com
que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores?
–
Sim queremos!
– Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus
será o vosso conforto.
Foi
ao pronunciar estas palavras (a graça de Deus, etc...) que abriu pela primeira
vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas
expedia, que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazia-nos ver a
nós mesmos em Deus, que era essa luz; mais claramente que nos vemos no melhor
dos espelhos.
Então
por um impulso íntimo, também comunicado, caímos de joelhos e repetíamos
intimamente: "Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro, Meu Deus, Meu Deus, eu
Vos amo no Santíssimo Sacramento."
Passados
os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou:
– Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz do
mundo e o fim da guerra.
Em
seguida começou a elevar-se serenamente subindo em direção ao nascente até
desaparecer na imensidade da distância. A luz que A circundava ia como que
abrindo um caminho no cerrado dos astros, motivo porque algumas vezes dissemos
que vimos abrir-se o Céu.
2ª APARIÇÃO – 13 de Junho de 1917.
Aí
pelas 11 horas saí de casa, passei por casa de meus tios onde a Jacinta e o
Francisco me esperavam e lá vamos para a Cova da Iria à espera do momento
desejado... Depois de rezar o terço com a Jacinta e Francisco e mais pessoas
que estavam presentes (Conforme contou o Sr. Inácio António Marques, assistiram
40 pessoas!), vimos de novo o reflexo da luz que se aproximava (a que
chamávamos relâmpago) e em seguida Nossa Senhora sobre a carrasqueira, em tudo
igual a Maio.
–
Vossemecê que me quer? Perguntei.
– Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que
rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois direi o que quero.
–
Pedi a cura de um doente.
– Se, se converter, curar-se-á durante o ano.
–
Queria Pedir-lhe para nos levar para o Céu.
– Sim, a Jacinta e o Francisco levo-os em breve, mas tu
ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para me fazer conhecer e
amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração. A quem
a aceita, prometer-lhe-ei a salvação e estas almas serão amadas de Deus, como
flores colocadas por Mim para enfeitar o Seu Trono.
–
Fico cá sozinha? Perguntei com pena.
– Não, filha! E tu sofres muito! Não desanimes. Eu nunca te
deixarei. O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te
conduzirá até Deus.
Foi
no momento em que disse estes palavras, que abriu as mãos e nos comunicou, pela
segunda vez, o reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos
em Deus.
A
Jacinta e o Francisco parecia estarem na parte dessa luz que se elevava para o
Céu, e eu, na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita
de Nossa Senhora estava um Coração cercado de espinhos que parecia estarem-Lhe
cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos
pecados da humanidade que queria reparação.
Eis
ao que nos referíamos quando dizíamos que Nossa Senhora nos tinha revelado um
segredo em Junho. Nossa Senhora não nos mandou ainda desta vez guardar segredo,
mas sentíamos que Deus a isso nos movia.
Escreve
a Irmã Lúcia
Momentos
depois de termos chegado à Cova da Iria, junto da carrasqueira, entre numerosa
multidão de povo, estando a rezar o terço, vimos o reflexo da costumada luz e
em seguida Nossa Senhora sobre a carrasqueira.
–
Vossemecê que me quer? Perguntei.
– Quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que
continuem o rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário
para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só ela Lhes poderá valer.
–
Queria pedir-Lhe para nos dizer quem é, para fazer um milagre com que todos
acreditem que Vossemecê nos aparece.
– Continuem a vir aqui todos os meses, em Outubro
direi quem sou, o que quero, e farei um milagre que todos hão de ver
para acreditar.
Aqui
fiz alguns pedidos, que não recordo bem quais foram.
O
que me lembro é que Nossa Senhora disse que era preciso rezar o terço para
alcançar as graças durante o ano. E continuou:
– Sacrificai-vos pelos pecadores, e dizei muitas vezes, em
especial sempre que fizerdes algum sacrifício: "O Jesus, é por vosso
amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos
contra o Imaculado Coração de Maria."
1ª e 2ª Parte do segredo
1ª. Consta da visão do inferno.
2ª. A Devoção ao Meu Imaculado Coração com a comunhão
reparadora nos primeiros sábados e a Consagração da Rússia.
O
texto que segue, nesta narração, fazia já parte do segredo que, em 1917, Nossa
Senhora pediu aos Pastorinhos não contassem a ninguém e que eles não revelaram
nem mesmo quando o Administrador os prendeu e ameaçou mandar fritar em azeite a
ferver. Só em 31 de Agosto de 1941, na carta escrita em Tuy ao Bispo D. José
Alves Correia da Silva, Lúcia diz ser "chegado o momento" de falar do
segredo, acrescentando: Bem; o segredo consta de três coisas distintas, duas
das quais vou revelar.
1ª Parte:
A primeira foi, pois, a vista do inferno! Nossa Senhora
.... Ao dizer estas palavras, abriu de novo as mãos como nos dois meses
passados. O reflexo pareceu penetrar a terra e vimos como que um mar de fogo,
mergulhados nesse fogo os demônios e as almas, como se fossem brasas
transparentes e negras ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no
incêndio levadas pelas chamas que deles mesmas saíam juntamente com nuvens de
fumo, caindo de todos os lados semelhante ao cair das fagulhas nos grandes
incêndios, sem peso, nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero
que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Devia ser ao deparar-me com esta
visão que dei esse Ai, que dizem ter-me ouvido.
(No
jornal O Século, de 23 de Julho de 1917, lia-se: "ouviu-se um
ruído semelhante ao ribombar do trovão, pro rompendo as crianças num choro
aflitivo, fazendo gestos epiléticos e caindo depois em êxtase.")
Os
demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos
e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa. Esta visão foi
um momento, e graças à Nossa boa Mãe do Céu, que antes nos tinha prevenido com
a promessa de nos levar para o Céu. Se assim não fosse, creio que teríamos
morrido de susto e pavor. Assustados e como que a pedir socorro, levantamos a
vista para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza:
2ª
parte:
- Vistes o inferno para onde vão as almas dos pobres
pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu
Imaculado Coração. Se fizerem o que eu disser, salvar-se-ão muitas almas e
terão paz: a guerra vai acabar. Mas se não deixarem de ofender a Deus,
no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite iluminada por
uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a
punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à
Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao
meu Imaculado Coração e a comunhão
reparadora nos primeiros sábados.Se atenderem a meus pedidos, a Rússia
converter-se-á e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo
guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá
muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas: por fim o meu Imaculado
Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia que se converterá e
será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal conservar-se-á sempre o
dogma da fé, etc...
3ª Parte do segredo.
Quanto
à terceira parte do segredo, encontrando-se Lúcia doente, em Tuy, descreveu-a
em 3 de Janeiro de 1944, também por ordem do Bispo de Leiria, entregando-a num
envelope fechado. Lúcia diz nessa carta:
Escrevo
em ato de obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de sua Ex.cia.
Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe.
Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado
esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fogo em
a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia iam incendiar o mundo;
mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa
Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com
voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos numa luz imensa
que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas num espelho quando lhe
passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que
era o Santo Padre”. Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas
subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos
toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí,
atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trêmulo com andar
vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que
encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés
da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam varias
tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos
Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e
senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois
Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, neles recolhiam o sangue dos
Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus.
Continuando
a carta de 31 de Agosto de 1941:
– Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco sim, podeis
dizê-lo. Quando rezardes o terço, dizei depois de cada mistério:
Ó meu Jesus, perdoai-nos livrai-nos do fogo do inferno,
levai as alminhas todas para o céu, principalmente aquelas que mais precisarem.
Seguiu-se
um instante de silêncio e perguntei:
–
Vossemecê não me quer mais nada?
– Não, hoje não te quero mais nada.
E
como de costume começou a elevar-se em direção ao nascente até desaparecer na
imensa distância do firmamento.»
4ª APARIÇÃO – 19 de Agosto de 1917.
A Aparição foi no domingo, em 19 de Agosto de 1917 ao cair da tarde..
Andando com as ovelhas na companhia de Francisco e seu irmão João, num lugar
chamado Valinhos e sentido que alguma coisa de sobrenatural se aproximava e nos
envolvia, suspeitando que Nossa Senhora nos viesse a aparecer e tendo pena que
a Jacinta ficasse sem A ver, pedimos a seu irmão João que a fosse chamar. Como
ele não queria ir, ofereci-lhe para isso dois vinténs e lá foi a correr.
Entretanto, vi com o Francisco, o reflexo da luz a que chamávamos relâmpago; e
chegada a Jacinta, vimos Nossa Senhora sobre uma carrasqueira.
- Que
é que Vossemecê me quer?
- Quero
que continueis a ir à Cova da Iria no dia 13, que continueis a rezar o terço
todos os dias. No último mês farei o milagre para que todos acreditem.
- Que é que
Vossemecê quer que se faça ao dinheiro que o povo deixa na Cova da Iria?
- Façam
dois andores: um, leva-lo tu com a Jacinta e mais duas meninas vestidas de
branco; o outro que o leve o Francisco com mais três meninos. O dinheiro dos
andores é para a festa de Nossa Senhora do Rosário e o que sobrar é para a
ajuda duma capela que hão de mandar fazer.
- Queria
pedir-lhe a cura de alguns doentes.
- Sim,
alguns curarei durante o ano.
E tomando um
aspecto mais triste:
- Rezai,
rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o
inferno, por não haver quem se sacrifique e peça por elas.
E como de
costume, começou a elevar-se em direção ao nascente.
A Aparição nos Valinhos foi para o Francisco de dobrada alegria. Sentia-se
torturado pelo receio de que Ela não voltasse. Depois dizia:
- De certo
não nos apareceu no dia 13 para não ir a casa do Sr. Administrador, talvez por
ele ser tão mau.
Em seguida, como a irmã disse que queria ficar ali o resto da tarde:
- Não! Tu
tens que ir embora, porque a mãe hoje não te deixou vir com as ovelhas.
E para
animar, foi acompanhá-la à casa.
O
tempo todo as três crianças dedicavam à oração e a imaginar que mortificações
poderiam praticar pela conversão dos pecadores. No mês de agosto, de maior
seca, chegaram a ficar nove dias sem beber água. Em lugar de comer as frutas
doces que os pais lhes davam, comiam ervas do campo e pinhas verdes. Tendo
encontrado uma corda ásperano caminho para Aljustrel, os três a repartiram
para usar na cintura como um silício, dia e noite.
Eram
claros os sinais de que essas penitências agradavam a Deus. Particularmente,
Jacinta agora era mais paciente, carinhosa, e aberta aos sofrimentos. Teve
muitas visões sobre coisas futuras. Certo dia rezou três Ave-Marias por uma
mulher muito doente, e todos os sintomas da doença desapareceram. Por outra
mulher, que os injuriava chamando-as de impostoras e mentirosas, Jacinta pediu
que os três fizessem muitas penitências para que se convertesse; e de fato,
nunca mais a ouviram dizer uma palavra menos bondosa.
5ª
APARIÇÃO – 13 de Setembro de 1917.
Dia 13 de Setembro de 1917. Ao aproximar-se a hora, lá fui com a Jacinta e o
Francisco, entre numerosas pessoas que a muito custo nos deixavam andar...
Chegamos por
fim à Cova da Iria, junto da carrasqueira, e começamos a rezar o terço com o
povo. Pouco depois vimos o reflexo da luz e a seguir Nossa Senhora sobre
azinheira.
-
Continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra. Em Outubro virá
também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, São José com o Menino
Jesus para abençoarem o mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios,
mas não quer que durmais com a corda. Trazei-a só durante o dia.
- Têm-me
pedido para Lhe pedir muitas coisas, a cura de alguns doentes, dum surdo-mudo.
- Sim,
alguns curarei; outros não. Em Outubro farei o milagre para que todos
acreditem.
E começando
a elevar-se, desapareceu como de costume.
6ª
APARIÇÃO – 13 de Outubro de 1917.
Conta Irmã Lúcia:
Tinha-se
espalhado o boato que as autoridades haviam decidido fazer explodir uma bomba
junto de nós, no momento da aparição. Não concebi, com isso, medo algum, e
falando a meus primos, dissemos:
- Mas que
bom, se nos for concebida a graça de subir dali com Nossa Senhora para o Céu!
No entanto meus pais assustaram-se e pela primeira vez quiseram acompanhar-me,
dizendo:
- Se a minha
filha vai morrer, eu quero morrer a seu lado.
Meu pai levou-me então pela mão até o local das aparições, mas desde o momento
da aparição não o voltei mais a ver até que me encontrei à noite no seio da
família.
Pelo caminho as cenas do mês passado, porém mais numerosas e comovedoras. Nem a
lamaceira dos caminhos impedia essa gente de se ajoelhar na atitude mais
humilde e suplicante.
Chegados à Cova da Iria junto da carrasqueira, levada por um movimento
interior, pedi ao povo que fechasse os guarda-chuvas para rezarmos o terço.
Pouco depois vimos o reflexo da luz e em seguida Nossa Senhora sobre a
carrasqueira.
- Que é que
Vossemecê quer?
- Quero
dizer-te que façam aqui uma capela em minha honra.
"Sou
a Senhora do Rosário". Que continuem sempre a rezar o terço todos os
dias. A guerra vai acabar e os militares voltarão em breve para suas casas.
- Eu tinha
muitas coisas para lhe pedir. Se curava uns doentes e se convertia uns
pecadores, etc.
Respondeu-me dizendo:
- Uns
sim, outros não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados.
E tomando um
aspecto triste:
- Não
ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido.
O SOL
DANÇOU EM FÁTIMA.
Despedindo-se,
a Senhora abriu as mãos, como das outras vezes, e o brilho que delas saía subia
até onde devia estar o sol. A multidão viu as nuvens se abrirem e o sol
aparecer entre elas, no azul do céu, como um disco luminoso. Muitos ouviram
Lúcia gritar:
- Olhem para o sol!
Porém,
ela estava em êxtase e não se recorda de ter dito isso, pois estava totalmente
absorta em outras visões que se sucederam...
Na cova da
Iria 70.000 pessoas esperavam durante 4 horas, à chuva, molhadas até aos ossos,
em poças de água com cerca de 10cm de profundidade, agüentando até o frio.
Conta
Lúcia:
"Desaparecida
Nossa Senhora na imensidade do firmamento, vimos ao lado do sol São José com o
Menino e Nossa Senhora vestida de branco com um manto azul. São José com o
Menino pareciam abençoar o mundo, pois faziam com as mãos uns gestos em forma
de cruz."
E
somente Lúcia teve a visão seguinte:
"Pouco
depois, desvanecida essa aparição, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora que me dava
a idéia de ser Nossa Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abençoar o mundo
da mesma forma que São José. Desvaneceu-se esta aparição e pareceu-me ver ainda
Nossa Senhora em forma semelhante a Nossa Senhora do Carmo".
Enquanto
isso, a multidão presenciava o milagre prometido por Nossa Senhora:
O
sol rompia as nuvens e, bem no zênite, na posição de meio-dia, brilhava como um
disco de prata. Era possível realmente olhar para ele, sem que sua luz
ofuscasse. Isso foi por um instante.
Todos
ainda olhavam para o sol, assombrados, quando ele começou a "dançar",
segundo a descrição das pessoas: ele começou a girar sobre si mesmo, como uma
bola de fogo, e então parou. Logo voltou a girar, mas velozmente. Ainda
girando, suas bordas ficaram escarlates e começaram a lançar chamas por todo o
céu, e com isso sua luz se refletia em tudo e em todos, com as diferentes cores
do espectro solar. Ainda girando rapidamente, e espargindo chamas coloridas,
por três vezes o sol pareceu desprender-se do céu e precipitar-se em
zigue-zague sobre a multidão.
Muitos
julgavam ser o fim do mundo, e as pessoas se ajoelhavam na lama pedindo perdão
de seus pecados. Houve quem fizesse confissão pública em altos brados, e alguns
dos que haviam ido até a Cova para fazer troça dos crédulos prostraram-se em
terra entre soluços e orações desajeitadas. O fenômeno durou por uns dez
minutos, e depois, elevando-se em zigue-zague, o sol voltou a sua posição
normal e brilhante, ofuscando como o sol comum.
As
pessoas se entreolhavam e diziam:
"Milagre!
Milagre! As crianças tinham razão! Nossa Senhora fez o milagre! Bendito seja
Deus! Bendita seja Nossa Senhora!" Muitos riam, outros choravam de
alegria, e houve quem notasse que suas roupas se haviam secado subitamente.
Durante
mais de quatro horas chovera torrencialmente e fizera muito frio. E então,
exatamente como fora profetizado 92 dias antes, exatamente à hora indicada,
parou a chuva e ficou imediatamente bom tempo. Apareceu um maravilhoso
arco-íris, promissor de felicidade. A natureza utilizou aqui este jogo de luz,
embora contra as regras, pois um arco-íris normalmente pode ser visto de manhã
ou à tardinha, não ao meio-dia. Mas o arco-íris apareceu sobre Fátima ao
meio-dia, as suas cores brilharam com uma intensidade cem vezes superior à
normal, formando em vez de um arco abobado, uma grande faixa com 12 metros de
altura que cobriu homens, muros e árvores.
Depois
deste jogo de cores, o poderoso calor crescente empurrou o tempo chuvoso para o
céu. A água evaporou-se rapidamente, e surgiu um grande calor. Mas isso não
incomodou ninguém.
Os
nossos físicos não conhecem processos tão rápidos de secagem, pois a quantidade
da água evaporada não pode subir em poucos minutos para a atmosfera. Quando
terminou o triplo jogo de luz, tudo estava completamente seco. Vários milhares
de toneladas de água deviam ter-se evaporado em menos de 3 minutos. Certamente
o ar, o quarto elemento, causaria os maiores problemas para os operadores de
televisão. Enquanto eles poderiam mais ou menos filmar os efeitos dos elementos
acima descritos, não teriam capacidade de captar a coluna do ar.
As muitas nuvens e altitudes que diferiam de algumas centena a vários milhares
de metros, foram movidas, e de tal maneira sobrepostas que o sol verdadeiro
perdeu o brilho e nenhuma das 70.000 pessoas sofreu danos na retina ocular.
Desse modo as diferentes aberturas entre nuvens foram dirigidas com precisão
sensacional.
No meio da
multidão estiveram os três Pastorinhos que, durante o bailar do sol, se
encontraram com a Senhora de dignidade real.
Se
tivéssemos estado naquele dia em Fátima, mesmo só como observadores, teríamos
regressado a nossas casas com um entusiasmo de inexplicável felicidade. O nosso
pensamento teria sido: Que maravilha é o nosso planeta!
A água pantanosa e a lama fria transformaram-se em suave beleza estival!
O disco, que se confundiu com o sol, bailou nas alturas e desceu em frente da
multidão, numa proximidade palpável, sem contudo
ameaçar!
Graças a
Deus e graças aquela que do céu nos trouxe à terra este presente, certamente
não com a intenção de assustar, mas para provar a sua vinda!
Sobre os Sinais.
Só um
milagre – obra divida – põe nos acontecimentos o sinete de Deus. Assim
aconteceu com o próprio Salvador.
Jesus, no início da sua vida pública, encontrou vendedores e cambistas no
templo e expulsou-os a todos. Então os judeus perguntaram-lhe: Que sinal nos
dás de poderes fazer isto?
Jesus respondeu-lhes: Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei.
Replicaram então os judeus: Quarenta e seis anos levou este templo a construir,
e Tu vais levantá-lo em três dias?
Ele, porém, falava do templo que é o seu corpo. Por isso, quando Jesus
ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha
dito... (Jô 2,17-22).
Outra altura, quando Ele ensinou o povo e anunciou o Evangelho, também os sumos
sacerdotes, os escribas e os anciãos se aproximaram dele e lhe perguntaram: com
que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu autoridade para as fazeres? (Mt
11,27-28)
Jesus disse-lhes: Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então
ficareis a saber que Eu sou o que sou e que nada faço por mim mesmo, mas falo
destas coisas tal como o Pai me ensinou. E aquele que me enviou está comigo.
Ele não me deixou só, porque faço sempre aquilo que lhe agrada. (Jô 8,28-29)
Noutro dia disseram-lhe alguns doutores da lei e fariseus: Mestre, queremos ver
um sinal feito por ti.
Ele respondeu-lhes: Geração má e adúltera! Reclama um sinal, mas não lhe será
dado outro sinal, a não ser o do profeta Jonas. Assim com Jonas esteve no
ventre do monstro marinho, três dias e três noites, assim o Filho do Homem
estará no seio da terra, três dias e três noites. (Mt 12,38-40; Lc 11,29-32)
Quando vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: Vem lá a chuva; e
assim sucede. E quando sopra o vento sul, dizeis: Vai haver muito calor; e
assim acontece. Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu;
como é que não sabeis reconhecer o tempo presente? (Lc 12,54-56) As obras que o
Pai me confiou para levar a cabo, estas mesmas obras que eu faço, dão
testemunho de que o Pai me enviou. E o pai me enviou mantém o seu testemunho a
meu favor. Nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu rosto, nem a sua palavra
permanece em vós, visto não credes neste que ele enviou. (Jo 5,36-38) Na festa
da Dedicação do templo, Jesus afirmou de novo: Se não faço as obras do meu Pai,
não creias em mim; mas se as faço, embora não queirais crer em mim, crede nas
obras, e assim vireis a saber e ficareis a compreender que o Pai está em mim e
eu no Pai. (Jo 10,37-38)
Embora Jesus tivesse realizado diante deles tantos sinais portentosos, não
criam nele. (Jô 12,37) Jesus levantou a voz e disse: Quem crê em mim não é em
mim que crê, mas sim naquele que me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que
todo o que crê em mim não fique nas trevas. (Jo 12,44-46) Jesus, ressuscitou no
terceiro dia, como tinha anunciado.
A missão
de Nossa Senhora foi também confirmada pelo milagre do sol, em 13 de Outubro de
1917. Se mais nada tivesse acontecido, houve pelo menos uma profecia claramente
anunciada três meses antes e completamente cumprida!
No dia e
à hora anunciada, deu-se um fenômeno nunca antes visto, que dezenas de milhares
de pessoas presenciaram e testemunharam.
Testemunhou-o
também o jornalista Avelino de Almeida, que fora enviado pelo diário “O
Século”, para relatar o acontecimento desse dia 13 de Outubro de 1917, na Cova
da Iria. Com os seus próprios olhos viu as coisas espantosas e nesse jornal
diário, em 15 de Outubro, Sob o título: “Como o sol bailou ao meio dia em
Fátima”, descreveu:
E, quando já
não imaginava que via alguma coisa mais impressionante do que essa rumorosa,
mas pacífica multidão animada pela mesma obsessiva idéia e movida pelo mesmo
poderoso anseio, que vi eu ainda de verdadeiramente estranho na charneca de
Fátima? A chuva, à hora pronunciada, deixar de cair; a densa massa de nuvens
romper-se e o astro rei – disco de prata fosca – em pleno zênite aparecer e
começar dançando num bailado violento e convulso, que grande número de pessoas
imaginava ser uma dança serpentina, tão belas e rutilantes cores revestiu
sucessivamente a superfície solar...
Milagre,
como gritava o povo; fenômeno natural, como dizem sábios?
Não curo
agora de sabê-lo, mas apenas de afirmar o que vi... O resto é com a ciência e
com a Igreja.
7ª Aparição – 15 de Junho de 1921.
Na
1ª aparição de Nossa Senhora em 13 de Maio de 1917, ELA disse:
- Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos,
no dia e a esta mesma hora, depois vos direi quem Sou e o que quero.
Depois voltarei aqui ainda uma sétima vez.
Em
1920 a Diocese de Leiria foi restaurada, e sagrado Bispo diocesano D. José Alves
Correia da Silva, que logo quis informar-se dos acontecimentos de Fátima e do
paradeiro da Lúcia, única sobrevivente dos pastorinhos.
Ao saber que, nessa ocasião, ela se encontrava em Fátima, pediu a uma senhora
da sua confiança o favor de ir ver se, com a licença da mãe, a levava a Leiria.
Assim, Lúcia encontrou-se pela primeira vez com D. José que a interrogou sobre
as aparições, ao que ela respondeu o melhor que pode e soube. Depois,
propôs-lhe deixar Fátima para ir para o Porto, porque por lá ainda não era
conhecida. Não falaria a ninguém das aparições de Fátima, nem de seus pais, nem
da sua família, nem revelaria o seu verdadeiro nome, nem a sua terra natal; não
receberia visitas, a não ser das senhoras a quem a ai entregar, para cuidarem
dela; não devia escrever a ninguém, a não ser a sua mãe, devia mandar as suas
cartas ao Vigário do Olival, que se encarregaria de entregá-las à mãe, e que
esta, as cartas que lhe escrevesse devia, igualmente, enviá-las ao Vigário do
Olival para, por meio de Sua Reverendíssima, lhe serem enviadas; que não
voltaria a Fátima para passar férias nem para qualquer outra coisa, sem a sua
licença.
Sabemos
hoje, do diário da Irmã Lúcia:
De novo em Fátima, guardei inviolável o meu segredo, mas a alegria que senti,
ao me despedir do Senhor Bispo, durou pouco tempo, Lembrava-me dos meus
familiares, da casa paterna, da Cova da Iria, Cabeço, Valinhos, do poço... e
agora deixar tudo, assim, de uma vez para sempre? Para ir não sei bem para
onde...? Disse ao Sr. Bispo que sim, mas agora vou dizer-lhe que me arrependi e
que para aí não quero ir.
E como que
em oração dirigida à Mãe do Céu, continua:
Assim foste Tu, a que me tomaste pela mão e me conduziste os passos. Sim, mais
de uma vez, vieste à terra para indicar-me o caminho, sem Ti, teria perdido o
norte e desviado o caminho estreito.
Foi
o dia 15 de Junho de 1921, viste a minha luta, a indecisão e o
arrependimento do sim que antes tinha dado, a incerteza do que iria encontrar,
a resolução de voltar atrás. O conhecimento do que deixava, e a saudade a
desgarrar-me o coração!
Esse Adeus a tudo, no desabrochar da juventude onde um belo futuro me sorria na
casa da minha querida Senhora D. Assunção Avelar e outras que me ofereciam, o
carinho maternal com igual afeto, deixar tudo e a casa paterna, por uma
incerteza do que iria encontrar, oprimia-me o coração e fazia-me pressentir o
que nem queria pensar!...
Podia
lá ser? Perguntava a mim mesma. - Não, - digo a minha Mãe que não quero ir e
com não aparecer amanhã em Leiria tudo está resolvido, volto depois para
Lisboa, para Santarém para casa da minha querida Sr. D. Adelaide, ou para
Leiria para as Senhoras Patrício, em qualquer dos sítios estou muito melhor,
posso estudar e conseguir um bom futuro.
Para
onde o Sr. Bispo me quer levar, não sei como será, é com a condição de não
voltar mais a casa, por isso não voltarei mais a ver a família, nem estes
lugares benditos! Cova de Iria, Loca do Cabeço, Valinhos, Poço do Arneiro, a
Igreja onde fica o meu Jesus escondido e onde tantas graças tenho recebido! O
sorriso da minha primeira Comunhão! Vila Nova de Ourém onde fica a Jacinta, o
cemitério onde ficam os restos mortais de meu querido Pai e Francisco! Nunca
mais voltar a pisar esta terra abençoada, para ir sabe Deus para onde! Sem nem
sequer poder escrever diretamente à minha mãe! Impossível, não vou!
E
foi entre esta multidão de pensamentos sombrios que percorri o caminho desde a
Igreja de Fátima, onde de manhãzinha cedo foi para assistir à Santa Missa e
comungar por despedida, até à Cova de Iria.
Aí
ajoelhada e debruçada sobre a pequena grade que resguardava a terra que tinha
alimentado a feliz carrasqueira onde Nossa Senhora pousou os Seus Imaculados
pés, deixei as lágrimas correrem em abundância enquanto que pedia a Nossa
Senhora perdão de não ser capaz de oferecer-Lhe desta vez, este sacrifício que me
parecia superior as minhas forças. Recordava sim, esse mais belo dia 13
de Maio de 1917, em que tinha dado o meu “Sim” prometendo aceitar todos os
sacrifícios que Deus quisesse enviar-me. E esta recordação era como que uma luz
no fundo da alma, um escrúpulo que me não dava paz, e me fazia verter uma
torrente de lágrimas.
Nesse
momento, bem longe estava eu de pensar num novo encontro, nem no cumprimento da
promessa: “Voltarei aqui, uma sétima vez”. Tinha tantos mais
dignos do que eu a quem podias manifestar-Te! Mas não é aos filhos mais
pequeninos e necessitados que as mães socorrem em primeiro lugar? Por certo
que, desde o Céu, o Teu maternal olhar me seguia os passos e no espelho Imenso
da Luz que é Deus, viste a luta daquela a quem prometeste especial proteção.
“Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho
que te conduzirá até Deus.”
Assim
solícita, mais uma vez desceste à terra, e foi então que senti a tua mão amiga
e maternal tocar-me no ombro; levantei o olhar e vi-Te, eras Tu, a Mãe Bendita
a dar-me a Mão e a indicar-me o caminho; os Teus lábios descerraram-se e o doce
timbre da tua voz restituiu a luz e a paz à minha alma.
Disse
Nossa Senhora:
- “Aqui
estou pela sétima vez, vai, segue o caminho por onde o Senhor Bispo te quiser
levar, essa é a vontade de Deus.”
Repeti
então o meu “Sim”, agora bem mais consciente do que, o dia 13 de Maio
de 1917 e enquanto que de novo Te elevavas ao Céu, como num relance,
passou-me pelo espírito toda a série de maravilhas que naquele mesmo lugar,
havia apenas 4 anos, ali me tinha sido dado contemplar. Recordei a minha
querida Nossa Senhora do Carmo e nesse momento senti a graça da vocação à vida
religiosa e o atrativo pelo Claustro do Carmelo.
Tomei por
protetora a minha querida Sóror Teresinha do Menino Jesus. Dias depois, por
conselho do Sr. Bispo, tomei por norma a “Obediência” e por lema as
palavras de Nossa Senhora narradas no Evangelho – “Fazei tudo o que Ele vos
disser”.
8ª Aparição – 10 de Dezembro de 1925 – á Irmã Lucia na
Espanha.
Dia
10/12/1925, apareceu-lhes a SS. Virgem e ao lado, suspenso em uma nuvem
luminosa, um Menino. A SS. Virgem, pondo-lhe no ombro a mão e mostrando, ao
mesmo tempo, um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos.
Ao
mesmo tempo, disse o Menino:
- Tem
pena do Coração de tua SS. Mãe que está coberto de espinhos que os homens
ingratos a todos os momentos lhe cravam sem haver quem faça um ato de reparação
para os tirar.
E
em seguida disse a SS. Virgem:
- Olha,
minha filha, o Meu coração cercado de espinhos que os homens ingratos me
cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de me consolar e diz que
todos aqueles que durante cinco meses, ao 1º sábado, se confessarem, recebendo
a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e me fizerem 15 minutos de companhia,
meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, eu prometo
assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a
salvação dessas almas.
Aparição à Irmã Lúcia em 13 de Junho de 1929 – Tuy -
Espanha
A Visão da Santíssima Trindade
Por
fim, temos a última aparição em Tuy.
A Qual abóbada remata e sintetiza toda a mensagem nessa
visão deslumbrante que compendia num só e único olhar o mistério da Trindade, o
sacrifício redentor da Cruz, o sacrifício eucarístico e a presença e
participação singular de Maria sob a cruz, com o Seu Coração Imaculado em todo
este mistério da salvação do mundo.
Conta
Ir. Lúcia:
- Eu tinha pedido e obtido licença das minhas Superioras e Confessor
para fazer a Hora-Santa das 11 à meia-noite, de quintas para sextas-feiras.
Estando uma noite só, ajoelhei-me entre a balaustrada, no meio da capela, a
rezar, prostrada, as
Orações do Anjo (...). Sentindo-me cansada, ergui-me e continuei a
rezá-las com os braços em cruz. A única luz era a da lâmpada.
De repente iluminou-se toda a Capela com uma luz
sobrenatural e sobre o Altar apareceu uma Cruz de luz que chegava até ao teto.
Em uma luz mais clara via-se, na parte superior da cruz, uma face de homem com
corpo até a cinta, sobre o peito uma pomba também de luz e, pregado na cruz, o
corpo de outro homem. Um pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um
cálice e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que
corriam pelas faces do Crucificado e duma ferida do peito. Escorregando pela
Hóstia, essas gotas caíam dentro do Cálice. Sob o braço direito da cruz estava
Nossa Senhora, “era Nossa Senhora de Fátima com o Seu Imaculado Coração... na
mão esquerda... sem espada, nem rosas, mas com uma Coroa de espinhos e
chamas...”, com o Seu Imaculado Coração na mão... Sob o braço esquerdo da cruz,
umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima
do Altar, formavam estas palavras: “Graça e Misericórdia”. Compreendi que me
era mostrado o mistério da Santíssima Trindade e recebi luzes sobre este
mistério que não me é permitido revelar.
É
interessante notar como esta representação da Trindade na Cruz é chamada na
iconografia cristã “Trono da Graça”, pela evocação da passagem de Heb 4, 14-16:
“Tendo
portanto um Sacerdote eminente que penetrou nos céus, Jesus, o Filho de Deus,
conservemos firme a confissão de fé. De fato, não temos um Sumo Sacerdote
incapaz de compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo
como nós, exceto no pecado. Vamos pois confiantes ao trono da graça, a fim de
alcançar misericórdia e encontrar graça para ser ajudados em tempo oportuno”.
E
como não evocar ainda, por associação, o prólogo de São João onde nos apresenta
o Verbo Encarnado como “O Filho Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”,
isto é, de amor misericordioso e fiel, de “cuja plenitude todos nós recebemos
graças sobre graças” (Jo 1, 14-16)?
Além
disso, a arte iconográfica exprimiu por vezes este mistério com mais
profundidade e finura do que certas teologias acadêmicas. Tal acontece na
tradição iconográfica do Ocidente, quando apresenta e representa como que numa
estética teológica o mistério Trinitário no madeiro da Cruz. É como uma síntese
plástica desta teologia: o Pai que entrega o Filho para ser solidário com os homens,
e sofre na dor do seu amor; o Filho que se entrega a si próprio totalmente pela
multidão dos irmãos; a pomba do Espírito de Amor que sustenta o Filho na sua
entrega e que, por sua vez, é entregue pelo Filho à humanidade como dom do seu
amor sofredor. É este mistério de amor que celebramos na Eucaristia.
A
APROVAÇÃO DA IGREJA.
D. José
Alves Correia da Silva, bispo de Leiria, a cujo território pertencia o lugar
dos acontecimentos, estudou e mandou estudar as aparições da Santíssima Virgem.
Dando especial relevo aos documentos das testemunhas do milagre do sol do dia
13 de Outubro de 1917, declarou, em 13 de Outubro de 1930, dignas de crédito as
visões das crianças nos dias 13, de Maio a Outubro de 1917, na Cova da Iria e
permitiu oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima.
Assim, a voz
do povo coincidiu com a voz de Deus e com a voz da Igreja.
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